quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

O Problema do Humor Politicamente Incorreto




Eu realmente gostaria de dizer que nunca gostei das piadas que ditos humoristas fazem. Que nunca gostei do humor “politicamente incorreto”. Eu estaria mentindo.
Eu costumava achar muito engraçado quando Danilo Gentili ou Rafinha Bastos faziam piadas que denegriam a imagem de certos grupos. É só humor, eu pensava. É só uma piada.
Pois é. Não é só humor. Não é só uma piada. Piada machuca.
Eu só fui perceber isso quando resolvi assumir meu cabelo natural: pixaim. E apesar de não acontecer com frequência as piadas vinham (e vêm). Eu me sentia ofendida – é claro -, mas muito mais do que isso: eu me sentia mal. Mal e envergonhada, constrangida.  E era lógico para mim que eu não devia me sentir mal por causa do meu cabelo. Meu cabelo é bonito. Eu não deveria me sentir mal pelas piadinhas que não tem a menor graça, nem deveria me sentir envergonhada. ELES deveriam se sentir envergonhados por tamanho preconceito escondido atrás do humor. Mas eu me sentia mal do mesmo jeito.
Foi, em grande parte, por causa do meu cabelo que fui aprendendo e lendo sobre os problemas que as minorias passam. Fui lendo sobre o preconceito racial, sobre o patriarcado e sobre a causa feminista, da causa feminista foi um pulo para a causa LGBT. Fui lendo sobre os padrões que a sociedade nos impõe e fui criando uma opinião sobre isso. E de repente as piadas do Danilo e do Rafinha já não eram mais engraçadas.
Por que atrás desse “humor” vêm a opressão, o preconceito.
Para usar um exemplo: As piadas com as pessoas acima do peso. Principalmente se você for gordinho desde a infância. Você cresce ouvindo: “Gordos são feios, o único jeito de você ficar bonitx é emagrecendo”. Às vezes você tem a saúde melhor que muita gente por aí, mas as pessoas continuam te passando dietas e nutricionistas, assumindo que você tem algum problema de saúde. Tem aquelas roupas que você “não deve” vestir. E ainda vêm as piadas. Que te fazem se sentir ainda pior do que você já se sente. E você tenta explicar que não é só a ofensa, é por que machuca mesmo, mas todos ao seu redor apenas riem e dizem que é frescura sua. Você é motivo de piada. Você é a piada.
E o “humorista” está apenas reforçando os padrões que a sociedade impõe. Ridicularizando todos que não se encaixam no nosso belo quadro social. Talvez, com toda a pressão a pessoa mude: alise o cabelo ou faça uma dieta maluca para emagrecer. Pelo menos assim as piadas parariam (Já que você não está mais incluídx no grupo, teoricamente, não importaria mais).
Piadas de mau gosto, o humor politicamente incorreto, podem trazer problemas. Quem pode esquecer a piada sobre a maior doadora de leite do país que o Danilo fez? Piada que afetou tanto o psicológico da moça que ela teve que parar com as doações por não ter leite suficiente. “Ah, mas é só uma piada. Que gente mais sem humor” – diz o defensor. É muito fácil dizer que é só uma piada quando não é você que está sendo apontado na rua, ridicularizado. Com pessoas rindo de você, xingando você. E por quê? Por causa da piada de algum sem noção na TV.  Michele Rafaela Maximino não fez nada de mais. Muito pelo contrário, ela fazia uma ótima ação. Sem motivos para se envergonhar, mas ela se sentiu mal do mesmo jeito.
Não há nada de engraçado em fazer piadas que oprimem, denigrem, que machuquem. Não há nada engraçado em machucar uma pessoa a tal ponto que ela não possa fazer mais uma ótima ação e ajudar tantos bebês prematuros que precisam de leite. Não há nada engraçado no humor politicamente incorreto. Há piadas simples, que não ofendem ninguém, que de tão bem boladas são geniais. É só parar para pensar e desenvolve-las.
Não, você não é o fodão, o pica das galáxias, o legalzão quando faz piadas ofensivas. Você é simplesmente babaca.
Eu não acho mais essas piadas engraçadas. Eu cresci. É hora desse pessoal crescer também.

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