terça-feira, 5 de maio de 2015

Ser ou Não Ser - Não é a Questão

Quando a gente faz militância, querendo ou não, as pessoas veem a gente como “generalistas”. Não é raro grupos privilegiados fazerem campanhas em retaliação às campanhas ativistas, reclamando que estamos generalizando – como o #NotAllMen para a campanha “YesAllWomen ou o #AllLivesMatter para o #BlackLivesMatter.

Eu poderia gastar esse texto todo e provavelmente mais um explicando porque a gente generaliza sim e porque isso não deveria ser tratado como um problema. Mas o objetivo desse texto é outro e vou deixar isso pra outra hora – mas me cobrem, pois eu realmente quero falar sobre isso.

A questão é que quando a gente fala de algum privilégio,  como, por exemplo, “White Privilege” (privilégio branco), todo mundo vai a loucura e começa a sessão de auto-defesa “Mas EU não faço isso”. E junto ao “eu nunca fiz isso” vem a emenda “não sou racista”.

Às vezes eu acho que as pessoas veem o racismo – ou o machismo, ou homofobia, etc – como um diploma de faculdade. Que se você cursar sete dos oito semestres, mas largar, você não é bacharel. Então se de uma lista de dez tipos de racismo a pessoa só cometeu oito, ela não é racista. Racismo não é bingo, gente. Não é porque você não completou a cartela que é como se não tivesse marcado nada.

Talvez o maior problema seja o uso de racista, machista e etc como adjetivo. Porque, sim, há graus de racismo. Há quem atinja o level super hard – o carinha que fez cartela cheia – mas isso não exime os outros níveis. Não existe racismo pela metade; não é porque alguém é mais racista do que você, que você não é.

Uma atitude racista faz de você um racista? É um tema complicado. Mas a questão é: não importa se vão te chamar de racista ou não, se você “merece” o título ou não. O que importa é que você cometeu essa atitude. E isso não é sobre você. É sobre a raça que você insultou, sobre as pessoas que você feriu com ela.

Se a sua maior preocupação frente a uma atitude duvidosa da sua parte – com você sabendo que foi errado - é a repercussão que isso vai ter no seu título e não o que isso representa na vida de milhares de pessoas, então tem algo errado contigo.

Todos estamos suscetíveis ao preconceito. Não porque ele seja natural – não há nada de natura em julgar, mesmo que inconscientemente, outro ser humano, por alguma característica física -, mas porque o preconceito é algo tão firme e tão presente da sociedade desde o início dos tempos que todo mundo carrega um pouco disso dentro de si. Inclusive os oprimidos. E é isso que torna a opressão tão forte.

E você pode dizer algo preconceituoso sem querer. Você pode estar dizendo porque sempre ouviu isso e nunca parou pra analisar, então você diz, e só depois que as palavras deixam a sua boca é que você percebe que elas não fazem sentido. Isso não te torna um ser humano ruim. Mas persistir nesse preconceito e dizer que ele não é nada demais, sim. Porque se você pisa no pé de alguém e essa pessoa diz “doeu”, você acredita nela. Você não pode mandar ela parar de mimimi porque não doeu. Foi o pé dela, não o seu.

Desconstruir esses preconceitos faz parte da maneira de extingui-los da sociedade. Você pode fazer algo e não ver esse algo como racismo, mas se um negro te diz que é, acredite. Mesmo que outro diga que não. Porque uma pessoa não pode representar todas dizendo que ninguém vai sofrer. Mas se uma pessoa sofreu, essa pessoa já é suficiente.

Eu como pessoa hétero não posso garantir que uma piada com bis não é ofensiva. Um bi pode.

O privilégio te impede de ver o lado do não-privilegiado.


Que tal se esforçar?

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