Quando
a gente faz militância, querendo ou não, as pessoas veem a gente como
“generalistas”. Não é raro grupos privilegiados fazerem campanhas em retaliação
às campanhas ativistas, reclamando que estamos generalizando – como o
#NotAllMen para a campanha “YesAllWomen ou o #AllLivesMatter para o
#BlackLivesMatter.
Eu poderia gastar esse texto todo e
provavelmente mais um explicando porque a gente generaliza sim e porque isso
não deveria ser tratado como um problema. Mas o objetivo desse texto é outro e
vou deixar isso pra outra hora – mas me cobrem, pois eu realmente quero falar
sobre isso.
Às
vezes eu acho que as pessoas veem o racismo – ou o machismo, ou homofobia, etc
– como um diploma de faculdade. Que se você cursar sete dos oito semestres, mas
largar, você não é bacharel. Então se de uma lista de dez tipos de racismo a
pessoa só cometeu oito, ela não é racista. Racismo não é bingo, gente. Não é
porque você não completou a cartela que é como se não tivesse marcado nada.
Talvez
o maior problema seja o uso de racista, machista e etc como adjetivo. Porque,
sim, há graus de racismo. Há quem atinja o level super hard – o carinha que fez
cartela cheia – mas isso não exime os outros níveis. Não existe racismo pela
metade; não é porque alguém é mais racista do que você, que você não é.
Uma
atitude racista faz de você um racista? É um tema complicado. Mas a questão é:
não importa se vão te chamar de racista ou não, se você “merece” o título ou
não. O que importa é que você cometeu essa atitude. E isso não é sobre você. É
sobre a raça que você insultou, sobre as pessoas que você feriu com ela.
Se
a sua maior preocupação frente a uma atitude duvidosa da sua parte – com você sabendo que foi errado - é a repercussão
que isso vai ter no seu título e não
o que isso representa na vida de milhares de pessoas, então tem algo errado
contigo.
Todos
estamos suscetíveis ao preconceito. Não porque ele seja natural – não há nada
de natura em julgar, mesmo que inconscientemente, outro ser humano, por alguma
característica física -, mas porque o preconceito é algo tão firme e tão
presente da sociedade desde o início dos tempos que todo mundo carrega um pouco
disso dentro de si. Inclusive os oprimidos. E é isso que torna a opressão tão
forte.
E
você pode dizer algo preconceituoso sem querer. Você pode estar dizendo porque
sempre ouviu isso e nunca parou pra analisar, então você diz, e só depois que
as palavras deixam a sua boca é que você percebe que elas não fazem sentido.
Isso não te torna um ser humano ruim. Mas persistir nesse preconceito e dizer
que ele não é nada demais, sim. Porque se você pisa no pé de alguém e essa
pessoa diz “doeu”, você acredita nela. Você não pode mandar ela parar de mimimi
porque não doeu. Foi o pé dela, não o
seu.
Desconstruir
esses preconceitos faz parte da maneira de extingui-los da sociedade. Você pode
fazer algo e não ver esse algo como racismo, mas se um negro te diz que é,
acredite. Mesmo que outro diga que não. Porque uma pessoa não pode representar
todas dizendo que ninguém vai sofrer.
Mas se uma pessoa sofreu, essa pessoa
já é suficiente.
Eu
como pessoa hétero não posso garantir que uma piada com bis não é ofensiva. Um
bi pode.
O
privilégio te impede de ver o lado do não-privilegiado.
Que
tal se esforçar?
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