segunda-feira, 25 de maio de 2015

Mas afinal, quem sofre mais?

Desde que eu me entendo por gente eu gosto de ser “a mais”. Não sei exatamente como explicar, mas eu sempre tive essa necessidade de estar ou na extremidade boa ou na extremidade ruim de algo. Nunca gostei de estar no meio. Exemplo: lembro uma vez na escola, devia ser sétima série, e discutíamos onde todo mundo da sala morava. E eu morava longe da escola – uma das meninas morava na esquina do lado, enquanto duas moravam no bairro vizinho. Eu nunca seria a pessoa a morar mais próxima a escola. Fiz questão de provar – mesmo que hoje eu tenha de admitir que não era verdade – que eu era a que morava mais longe. Nunca soube porque e nem sei porque isso me contenta, mas eu sempre fui assim.

Talvez por isso eu sempre tenha achado normal a necessidade que a maioria das pessoas tem de se comparar umas as outras. De gritar suas conquistas mais e mais alto rebatendo as conquistas dos outros e querendo mostrar que são mais completas e felizes – ou mais azaradas e miseráveis – mesmo que feliz seja algo completamente intangível e não-medível, logo não comparável.

Mas aí eu to dentro do feminismo, seguindo páginas feministas, com amigas feministas, e a galera grita por sororidade e não julgar umas as outras e isso é incrível, até que... até que chegam aquelas pessoas um pouco mais... hum... agressivas? E essas pessoas colocam sua causa acima das outras, e o mesmo ocorre no sentido contrário e eu, mesmo que sendo uma pessoa que naturalmente busca essa “rivalidade”, não consigo entender.

Tinha um sitcom do Matthew Perry (Friends) chamado “Go On” que teve uma temporada de 2012 a 2013 que era de um grupo de pessoas num grupo de terapia por conta de alguma perda. O personagem principal, do Matthew, havia perdido a esposa em um acidente de carro. Uma das mulheres do grupo perdeu a esposa para uma doença. Mas havia também uma personagem que tinha perdido... seu gato. E uma das regras da terapeuta do grupo era: nunca comparem suas perdas. Em um dos episódios o principal resolve que isso é bobagem e enquanto a terapeuta não está faz um joguinho de “qual a pior tragédia”. Quem ganha, pelas regras do jogo, é a que perdeu o gato. Contra a mulher que tem dois filhos e perdeu a esposa. E isso gera uma discussão no grupo até que a terapeuta aparece e explica que é por isso que eles não devem comparar. Independente do tamanho e impacto da perda, todo mundo ali tem um passado triste e todos eles têm direito de sofrer, sem se sentirem mal por não serem os únicos a sofrer.

E às vezes eu sinto que falta muito disso no “mundo dos oprimidos”.

Uma mulher hétero sobre um tipo de opressão que um homem gay nunca vai entender.
Mas da mesma forma esse homem gay sofre uma opressão que uma mulher nunca vai entender.

E ficar colocando esses interesse próprios – minha opressão sobre a sua – diretamente contra os interesses dos outros é um tiro no pé. Enquanto a dor de um oprimido for maior que a de outro e não de igual importância (apesar de ser diferente), estaremos colocando mais obstáculos no caminho em direção a igualdade.

Não estou falando em protagonizar um movimento do qual você não é o principal interessado. Não quero que mulheres brancas liderem um movimento negro. Mas a gente precisa aceitar que apesar das diferenças, todos sofremos. Todos somos oprimidos por este sistema que tem muitos pés para nos esmagar e que sozinhos somos vítimas muito mais acessíveis.

Não vamos comparar nossos sofrimentos.Vamos fortalecer nossa voz lutando por nós. Você, mulher branca, que sofre machismo, mas não racismo. Use seu papel parcialmente privilegiado na sociedade como algo para dividir com sua amiga negra. Dê voz a ela onde você não pode falar e aceite o que ela tem a dizer. Nunca a oprima da maneira que você não quer que um homem te oprima. Você, homem gay, entenda a maneira que o hétero te oprime e use isso para enxergar como você pode estar oprimindo uma mulher.


Jamais seja um opressor. Jamais.

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