segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

O Povo e a Hipocrisia


A gente sempre ouve as pessoas falando mal do governo. Não me levem a mal, eu falo também, ergo a voz pra reclamar, principalmente de transporte (que é a coisa pública com a qual eu mais tenho contato), mas eu simplesmente fico besta com o tipo de coisa que eu vejo e ouço.

Vejam bem, eu moro numa cidade próxima a São Paulo. E não é segredo pra ninguém que essa região aqui está cada dia pior. Seja lá de que área a gente esteja falando, está uma vergonha. Mas não é tudo culpa do governo. O povo tem uma parcela de culpa tão grande que fica até difícil a gente distinguir.

Acho que o caso mais comum e que todo mundo fala é o de enchentes. Nós, seres pensantes, estamos cansados de saber que a enchente não é culpa do governo. Não interessa que argumento você queira jogar aqui, até porque sempre tem aquele que solta “se ele desentupisse os bueiros são alagaria”. É uma questão simples de lógica que se as pessoas não entupissem os bueiros o governo não teria de desentupir nada. E honestamente, com tanta coisa que o governo precisa resolver e não consegue (como assassinatos, estupros, coisas assim, sem importância), é muita cara de pau o povo criar mais problemas desnecessários que causem mais problemas e ficar jogando isso pra cima do governo.


É aquele blábláblá de sempre gente, que de blábláblá não tem nada, é verdade: um papel pode não fazer diferença, mas se mil pessoas num raio de um quilômetro pensarem a mesma coisa, teremos um papel a cada passo. Pode parecer um ditado idiota o “de grão em grão a galinha enche o papo”, mas é verdade. Quero dizer, quando você está almoçando, você coloca todo o prato de comida de uma vez na boca? Não é aos poucos? Mas ainda assim não chega uma hora em que já deu? As coisas enchem com mais facilidade do que imaginamos.

Mas bem, esse é apenas um dos exemplos de como as pessoas são hipócritas. E na verdade nem foi ele que me fez querer escrever esse post. Foi um que menos pessoas percebem, até porque brasileiro adora arrumar um jeito de sair ganhando sem pensar nas consequências.

Na cidade onde eu moro a passagem de ônibus é R$3,30. Reservando um post cheio de FDP pra esse preço pra depois, eu vou falar aqui como se ainda fosse começo de dezembro e a passagem fosse R$2,90. Ok?

De qualquer maneira, a passagem é 2,90. É cara? É. Muito. Principalmente aqui onde eu moro que, honestamente, não vale R$2,90 pelo espaço e qualidade do trans porte. Mas teve um dia que eu estava fora do terminal esperando uma amiga, e eu fiquei observando as pessoas que entravam pra pegar ônibus (aqui a gente paga já pra entrar no terminal e aí entra no ônibus que quiser). Fiquei lá uma meia hora mais ou menos. Menos da metade das pessoas tinham cartão de passe (VT e comum, já que de fim de semana o de estudante não funciona). O resto, como é de se esperar, deve pagar em dinheiro. Mas nem metade dessas pessoas paga os R$2,90 que deve ao pessoal autorizado nas cabines. A maioria paga R$2,50 ao pessoal de fora (que deve vender a passagem de VT, não sei) e passa com o cartão deles.

E, claro, é compreensível que você queira pagar R$2,50. Mas será que não passa pela cabeça das pessoas que por mais cara que a passagem esteja, se a empresa de ônibus não está recebendo esse dinheiro, ela precisa aumentar porque ela simplesmente não está recebendo o tanto que devia? Como as pessoas esperam que qualquer dinheiro seja investido no transporte se elas mesmas não investem? Não estou defendendo o governo, acredito que eles têm sim dinheiro para investir ao menos um pouco, mas isso não muda o fato de que quem paga para o pessoal de fora está dando R$2,50 pra alguém que lucra 100% em cima daqueles R$2,50, pois por mais que R$2,90 seja caro, a empresa de ônibus gasta parte disso com gasolina, manutenção e pagamento de funcionários (funcionários necessários, como cobrador e motorista).

Ou seja, as pessoas estão cada vez mais exigindo uma honestidade e “cuidado” do governo para com eles, que eles mesmos não retribuem. O governo tem de ser honesto, eu não.

Enquanto você for corrupto, jovem cidadão, não há como o governo não ser.

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