Afirmam pais/futuros pais quando dizem “não tenho nada
contra, mas não quero um filho gay”. Sabe como é, “é difícil”. “Não é
preconceito, só não quero que ele sofra.”
Que fofo.
Assim. Tem muitos fatores relevantes sobre esse
assunto que precisam ser discutidos. Mas acho que a primeira coisa a se dizer é
que é 2015 e eu acho que a essa altura todo mundo já entendeu que tudo que vem depois de “não é preconceito”,
“não sou preconceituoso” ou só a conjunção “mas” é na verdade um preconceito.
Ninguém nunca diz “olha, não é preconceito, mas espero que meu filho seja feliz
do jeito que ele quiser”. A frase do não é preconceito sempre vem acompanhada
de algum tipo de opressão.
Como não querer que seus filhos sejam gays.
Sabe qual o problema de não querer um filho gay (mesmo
que pelo oh que altruísta e bonito
desejo de que ele não sofra)? Um dos problemas, ao menos? É que você se está se
preocupando e “gastando seus esforços” em resolver o efeito – efeito que ainda
não te alcançou, mas alcança filhos de diversas família todos os dias – ao
invés de resolver a causa e impedir esse efeito antes que ele te alcance – e
todas essas outras famílias.
É mais fácil desejar não ter um filho gay e dizer que
ele pode “sofrer bullying”. Mas as mesmas pessoas que dizem isso são as que
dizem que “agora tudo é homofobia”, que “não pode mais ter opinião”, que “o
preconceito hoje é com o hétero”. São as mesmas pessoas que simplesmente se recusam
a levantar um dedo pra acabar com a homofobia, com o “sofrimento que gays
sofrem”, porque esse sofrimento só é real nos hipoteticamente filhos gays
dessas pessoas, nunca nos gays ou filhos de gays que são mortos todos os dias.
É mais fácil desejar um filho que não passe pela situação de preconceito, ao
invés de mover pra acabar com esse preconceito.
Se todo mundo que reconhece – ainda que parcialmente –
que homossexuais sofrem por serem
homossexuais sim fizessem alguma coisa pra acabar com esse preconceito,
militasse, enxergasse a homofobia em todos os lugares e não só em seu possível
futuro, talvez não houvesse esse “medo” de que o filho sofresse por ser gay
algum dia.
Claro que aí não haveria mais desculpa para não se
desejar ter um filho gay e aí qual seria o argumento do homofóbico que “não é
preconceituoso” não é mesmo?
Em toda opressão de “minorias” existem dois lados que
você pode tomar: ou você favorece essa opressão, ou você luta contra ela.
Desejando não ter um filho homossexual você é parte de
problema.
Que tal ser parte da solução?
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