quarta-feira, 1 de abril de 2015

"Não quero que ele sofra"

Afirmam pais/futuros pais quando dizem “não tenho nada contra, mas não quero um filho gay”. Sabe como é, “é difícil”. “Não é preconceito, só não quero que ele sofra.”

Que fofo.

(Foi ironia, ta? Tem nada de fofo nesse preconceito nível super hard disfarçado de empatia)

Assim. Tem muitos fatores relevantes sobre esse assunto que precisam ser discutidos. Mas acho que a primeira coisa a se dizer é que é 2015 e eu acho que a essa altura todo mundo já entendeu que tudo que vem depois de “não é preconceito”, “não sou preconceituoso” ou só a conjunção “mas” é na verdade um preconceito. Ninguém nunca diz “olha, não é preconceito, mas espero que meu filho seja feliz do jeito que ele quiser”. A frase do não é preconceito sempre vem acompanhada de algum tipo de opressão.

Como não querer que seus filhos sejam gays.

Sabe qual o problema de não querer um filho gay (mesmo que pelo oh que altruísta e bonito desejo de que ele não sofra)? Um dos problemas, ao menos? É que você se está se preocupando e “gastando seus esforços” em resolver o efeito – efeito que ainda não te alcançou, mas alcança filhos de diversas família todos os dias – ao invés de resolver a causa e impedir esse efeito antes que ele te alcance – e todas essas outras famílias.

É mais fácil desejar não ter um filho gay e dizer que ele pode “sofrer bullying”. Mas as mesmas pessoas que dizem isso são as que dizem que “agora tudo é homofobia”, que “não pode mais ter opinião”, que “o preconceito hoje é com o hétero”. São as mesmas pessoas que simplesmente se recusam a levantar um dedo pra acabar com a homofobia, com o “sofrimento que gays sofrem”, porque esse sofrimento só é real nos hipoteticamente filhos gays dessas pessoas, nunca nos gays ou filhos de gays que são mortos todos os dias. É mais fácil desejar um filho que não passe pela situação de preconceito, ao invés de mover pra acabar com esse preconceito.

Se todo mundo que reconhece – ainda que parcialmente – que homossexuais sofrem por serem homossexuais sim fizessem alguma coisa pra acabar com esse preconceito, militasse, enxergasse a homofobia em todos os lugares e não só em seu possível futuro, talvez não houvesse esse “medo” de que o filho sofresse por ser gay algum dia.

Claro que aí não haveria mais desculpa para não se desejar ter um filho gay e aí qual seria o argumento do homofóbico que “não é preconceituoso” não é mesmo?

Em toda opressão de “minorias” existem dois lados que você pode tomar: ou você favorece essa opressão, ou você luta contra ela.

Desejando não ter um filho homossexual você é parte de problema.

Que tal ser parte da solução?

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