segunda-feira, 6 de abril de 2015

Quem precisa do feminismo?


Feminismo é um tema cada vez mais em pauta. Do ano passado até o momento cada vez mais a palavra está perdendo aquela conotação obscura e sendo dita em mais e mais programas por mais e mais celebridades. Muitos famosos erguem a bandeira de que o feminismo é necessário, muitos dizem não se considerarem feministas pelos motivos x, y e z. O ponto é: o tema está em alta e eu vou aproveitar a onda.

Tenho muitas amigas feministas. Tenho também muitas amigas que dizem não se considerar feministas. Esse texto talvez não seja pra elas – não sei se elas têm paciência de ler os meus textos “chatos” – mas espero que sirva pras amigas de vocês, que também não se consideram.

O argumento mais comum das mulheres que dizem não ser feministas – das que sabem o que feminismo significa (igualdade entre homens e mulheres) quero dizer – é o de que elas não precisam dele. De que não se sentem oprimidas.

A resposta mais comum a isso é aquela já conhecida frase “Uma mulher dizer que não precisa do feminismo porque não se sente oprimida, é o mesmo que alguém dizer que não precisa de bombeiros, afinal minha casa não está pegando fogo agora”. A frase é válida e eu a uso diversas vezes, mas hoje eu queria levantar um novo ponto nessa discussão.

Eu também não preciso do feminismo. Não totalmente, talvez. Porque apesar de ser mulher, em vários outros quesitos eu me encontro na classe privilegiada. E é ridículo acreditar que uma mulher cis, branca, hétero de classe média é oprimida da mesma maneira que uma mulher negra, ou que uma mulher trans, ou uma mulher de classe baixa, ou todos esses e mais outros.

Mas o fato de eu não precisar do feminismo não quer dizer que não existam mulheres que precisam. Muitas mulheres que precisam muito. O movimento não é pra mim, não luto só pela minha segurança e igualdade. Luto por todas as mulheres. Luto pelas mulheres que são estupradas. Pelas que estão presas em um relacionamento abusivo. Pelas que ganham menos do que homens no mesmo cargo. Pelas que ouvem que provavelmente dormiram com o chefe para ganhar aquela promoção. Pelas mulheres que estão “mostrando muito” ou que estão “escondendo demais”.

Luto pelas mulheres negras que sofrem uma mistura de machismo e racismo que mulheres brancas e homens negros não sofrem. Luto pelas mulheres trans que sofrem um machismo e transfobia e mulheres cis e homens trans não sofrem. Luto pelas mulheres que sofrem em qualquer escala pelo simples fato de serem mulheres.

Luto pelas mulheres que não querem ter filhos. Luto também pelas que querem ser donas de casa.

Luto pelas mulheres que não gostam de rosa e de vestido. Luto também pelas que gostam.

O feminismo não luta pra mim. O feminismo luta pra você, você achando que precisa ou não.

Porque, ok, eu menti lá em cima quando disse que não preciso. Porque eu preciso sim. Preciso pelas irmãs e preciso por mim. Preciso porque por menor que seja a opressão, por menos que ela me machuque – física ou emocionalmente – ela está lá.

Você pode não achar que o feminismo é necessário ou importante pra você. Talvez realmente não seja.

Mas você não pode ignorar as mulheres que precisam dele. Não pode ignorar os gritos de socorro.

Já disse mais de uma vez e torno a repetir: quando se fala em opressão, só existem dois lados. Ou você luta com o oprimido ou você está fortalecendo o opressor.

Qual é o seu lado?

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