Olha. Eu
comecei esse texto três vezes. Todas as outras três tentativas estão arquivadas
pra eu tentar dar uma alterada depois, porque eu acho que o assunto que eu
quero tratar aqui puxa tanto outros que fica difícil seguir uma única linha de
raciocínio. Apesar de eu querer MUITO conectar todos esses pontos pra tentar
fazer as pessoas entenderem. Mas acho que não vai dar.
Enfim. O
que eu vou escrever aqui vai surpreender muitas pessoas, eu sei. Mas eu preciso
escrever. Porque eu preciso que as pessoas finalmente entendam minha posição e
os motivos por trás do que eu acredito. Então, só pra já introduzir o assunto
principal logo de cara, eu quero falar sobre uma crença minha, que é:
Violência
só gera violência.
Ta
circulando pela internet um vídeo de uma mãe que bateu no filho porque ele
espalhou fotos – ou foi vídeo? Não sei – da namorada – ex? – na internet. Muita
gente me marcou/enviou/comentou comigo. Vieram me mostrar tipo “olha que
legal!!!”. Além dos que me mandaram, muitos amigos compartilharam. Não sei o
que me surpreendeu mais: amigxs (usando o x pq realmente ñ quero que soe como
se tivessem sido primariamente homens ou mulheres em nenhum dos grupos) não
feministas – e que nunca vi se expressarem contra o revenge porn ou semelhantes
– compartilhando e dizendo bem feito, ou xs feministas compartilhando e dizendo
a mesma coisa.
O menino é
um babaca. Nem vi o vídeo – nem pretendo, na verdade -, mas eu sei que ele é um
babaca, porque todo ser humano com uma mentalidade dessa é. Mas isso não quer
dizer que ele “mereça apanhar”. Ninguém “merece apanhar”. Na verdade, mesmo que
na concepção de vocês mereça... quem é você pra decidir quem merece ou não? Por
que o seu julgamento é superior e você pode decidir ou não quando uma pessoa –
seja lá o que tenha feito – mereça apanhar? Ou sofrer ou sei lá.
Dica:
ninguém. Você não é absolutamente ninguém pra decidir isso.
É como
aquele caso que fez certo sucesso da mulher que foi estuprada e “castrou” seu
estuprador. O cara a estuprou. Ele é um ser escroto e horrível que precisa
receber punição pelos seus atos. Que precisa, acima de tudo, entender que o que
ele fez é errado e porquê. Mas, mesmo esse cara tendo errado – cometido um
crime horrível que jamais poderá ser desfeito – o ser humano tem que entender
que justiça com as próprias mãos não
funciona. Essa mulher que foi estuprada foi uma vítima que de maneira
alguma merecia o que aconteceu com ela. Mas e se ela tivesse feito algo
horrível no passado e usassem o estupro como justificativa de justiça? Estaria
certo? Não. São duas faces da mesma moeda.
Voltando
pro cara que espalhou as coisas da namorada. E se essa namorada tivesse exposto
coisas dele antes? Seria justificável a ação dele? NÃO. Mas como você, que achou bem feito ele apanhar,
poderia me dizer que não achou bem feito o que aconteceu com ela? Porque um é
justificável e o outro não?
Vou bater
na tecla de novo: nada no mundo justifica a ação desses dois caras que eu citei
(foram dois caras por coincidência, talvez por eu ter usado crimes machistas,
mas poderia facilmente ser uma mulher aqui).Eles cometeram um crime – cada um a
seu nível - e ambos merecem pagar. Mas a justiça está aí pra isso. Ela está
errada? Ok. Então vamos lutar por uma justiça melhor. Por um sistema penal que
aprisiona criminosos e reabilita eles e faz com que essa reabilitação seja
baseada em trabalho que beneficie a sociedade. Mas nós – como indivíduos – não
podemos decidir qual a melhor punição.
Não queria
entrar no mérito, mas preciso: isso cai perfeitamente nos “justiceiros” que não
aguentam esperar decisão do governo e vão “resolver” as próprias injustiças.
Sabe o problema disso? O limite das pessoas. E o fato de que o conceito de
justiça não é único. A gente começa permitindo que um cara mate um criminoso
que matou sua esposa. Daí o outro cara que já é mais “pavio curto” acha que
matar um sequestrador é perfeitamente aceitável. Aí já chega o outro cara que
acha que matar um ladrão também é aceitável. E nisso a gente vai descendo até
aquela pessoa que dentro dos próprios moldes de justiça acha que é correto
matar quem olhou feio pra ele na rua.
Você pode
dizer que jamais faria isso, mas você não pode decidir pelos outros, não pode
pensar pelos outros. E as pessoas tem conceitos que muitas vezes precisam ser
barrados.
Antes do
mimimi de “você tava falando de violência (tapas) e do nada mudou pra morte,
não é bem assim”. É bem assim SIM! Não é bem assim pra você, mas como você acha
que é a cabeça de um marido que mata a mulher porque tem ciúmes? Ela é
exatamente assim. Começa com um empurrão, vira um tapa, que vira um soco, que
de repente virou uma faca cravada vinte e cinco vezes na vítima.
Olha, eu
não quero ser hipócrita aqui. A gente vê alguns casos que fazem a gente pensar
“uma pessoa dessa merece morrer”. Mas há uma enorme diferença entre pensar e agir. Eu, por exemplo, jamais
agiria num impulso desse. Tem gente que agiria. Mas a questão é que não importa
que esse pensamento existe, porque a gente não é a justiça e nem deus e nem o
destino ou seja lá o que diabos você queira colocar aqui pra decidir.
Sabem o
Batman? É, o homem morcego, herói da DC e tals. Vou confessar que não muito fã
dele. Toda essa persona fechada e amargurada me da vontade de me largar numa
cadeira e implorar pelo amor de deus não.
Mas o cara é um herói famosíssimo que praticamente o mundo inteiro gosta. E
sabe um dos princípios dele?
Heróis não
matam. Heróis apreendem e mandam pra prisão. Essa é a função deles, é assim que
eles fazem do mundo um lugar melhor.
Olha, eu
posso não gostar do cara. Mas é o Batman e ele não concorda com esse tipo de
justiça – vingança.
Talvez
esteja na hora de repensar os seus conceitos.
* Próximo
texto da saga de violência/justiça com as próprias mãos será sobre Jason Todd e
a repercussão disso no universo DC. Stay tuned.
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