quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Um insight sobre minha religiosidade


Acho que esse tema é complicado. Falar de religião nunca é uma boa ideia (se dois ateus podem discordar e duas pessoas da mesma igreja também podem, que chances têm duas pessoas com visões diferentes?). Ainda assim eu me peguei com um insight no outro dia, depois de ler um post da Lola (do belo e lindo blog Escreva, Lola, Escreva) e percebi que talvez eu tenha me enganado esse tempo todo.

Veja bem, a Lola é ateia. E ela fez um post contando como ela se descobriu/se tornou uma. E isso me ajudou muito a definir de vez meus pensamentos.

Não, isso não é um atestado de ateísmo. Mas é quase.

 
Vejam bem, eu sou batizada na igreja católica. Mas, até aí, a torcida do Flamengo e a do Corinthians também são, então não faz muita diferença. Mas eu sempre me disse “católica não praticamente” (só piso em igreja pra ir em casamento). Eu acho que dizia isso, porque eu na verdade nunca pensava em religião. Eu realmente nunca analisei minhas crenças ou pensamentos, eu só pensava na minha religião quando alguém me perguntava qual ela era. E essa era a resposta automática.

Mas aí eu ia pra escola, e eu tinha aula de história. E, apesar de muita dificuldade na matéria, eu lembro bem das aulas sobre a igreja nos tempos feudais, a inquisição, enfim, tudo. E eu lembro que a professora – que era a melhor professora que eu tinha, ela era o máximo – dizia que a igreja era totalmente interligada ao governo e suas regras eram o que determinava como o povo ia viver. E isso meio que me ajudou a pensar um pouco mais em religião (até chegar ao ponto de parar com o não praticante e dizer não tenho religião), porque (e eu realmente não quero ofender ninguém, se você tem sua religião, não se ofenda com o que vou dizer) eu não consigo olhar pra religiões/igrejas hoje e não ver a mesma coisa. Sei que muito mudou, mas pra mim essa coisa “controlar o povo” segue tão firme quanto sempre foi. Não vou fingir que entendo, que sei como é a bíblia, seu história ao longo dos milhares de anos, mas eu não entendo como tem tanta igreja com visões diferentes se todas elas acreditam e seguem os mandamentos de um mesmo livro (e, se não for o mesmo livro, qual o propósito afinal?). Porque numa igreja pode cortar o cabelo e noutra não? Porque mulher pode usar calça em um e noutra não? Porque diabos a pessoa não pode cortar o cabelo, mas pode cortar a unha?

Pra mim isso é controlar. Eu não vou decidir como vou me vestir ou como vou agir (submissa ao marido, aham) por causa de um livro de dois mil anos de idade, ou mais ainda (porque pelo que entendo isso não está na bíblia, já que as igrejas seguem mandamentos diferentes?) porque o Padre/Pastor/etc prega assim. Pra mim uma igreja me dizer que não posso usar calça é tão radical quanto as testemunhas de Jeová não poderem fazer transfusão de sangue. Quer dizer, da onde veio isso? Certamente que mandamentos de mais de mil anos atrás não contemplavam transfusões.

As pessoas se escandalizam com as mulheres iraquianas terem de andar de burca e cobrir tudo, mas elas fazem isso porque a religião diz que elas devem, e hey, não é exatamente a mesma coisa que poder ou não cortar o cabelo?

Eu admiro as pessoas que acham na religião um motivo para melhorar ou mesmo seguir em frente depois de um trauma. Eu acho lindo quem encontra conforto na religião. Mas, eu me sinto meio cética, porque eu acho que pra esse propósito não seria necessário centenas de igrejas, cada uma com uma visão diferente. Não deveria haver regras. Deveria ser um lugar para ajudar as pessoas, e com tudo que temos hoje, por mais que algumas pessoas usem a igreja desse jeito, não é assim que eu vejo. Eu vejo a igreja como uma forma de controlar as pessoas e de conseguir dinheiro.

É muito comum depois de uma tragédia (sequestro, assalto, assassinato), algumas pessoas soltarem o típico “Ah, que horror, quem faz isso não tem Deus no coração”. Olha, eu não quero ser mais uma a dizer que 90% dos presos é evangélico, 8% é católico e 2% é ateu, mas, oops, já disse. E aí vem o pessoal dizer que essas pessoas na verdade se dizem evangélicas, mas não realmente são, pois não entendem a palavra... acho difícil não entender uma regra que diz com todas as letras que não se deve matar e se deve amar ao próximo. Mas, ainda assim, se há tanta gente nas religiões que não entende, qual o sentido? E se há tanta gente fora da religião que jamais mataria, pra que uma religião?

Dizem que ter deus na sua vida faz de você uma pessoa melhor. Mas eu conheço donos de instituições de caridade que são ateus. E é aquela velha história de não podemos generalizar, mas meu ponto é: se há tanta gente boa “sem deus no coração”, qual a diferença?

Ser ateu é, hoje em dia, mais vítima de preconceito do que ser gay. É verdade, são dados estatísticos. Não me lembro os números, mas uma pesquisa aponta que grande parte da população odeia ateus. Sem sequer conhecê-los, saber de suas vidas e princípios, eles os odeiam pelo simples de que eles são ateus. E isso é gente com deus no coração, que deve amar ao próximo, hein!

E aí eu acho que ‘tá na hora de falar do meu insight, já que falei um monte e não disse nada do que queria dizer.

Bem, depois de um tempo eu passei a dizer que eu acreditava em deus e somente isso, nenhuma religião, não seguia e tampouco acreditava na bíblia. E aí eu me deparei com o termo agnóstico. Você sabe o que é agnosticismo? Eu vou te explicar: é uma vertente do ateísmo. Nele, não há a certeza da não existência de deus, mas também não há a certeza da existência. Há apenas aquele conformismo de que se deus existe ou não, não faz diferença alguma na nossa vida.

E eu percebi, depois do post a Lola, que o meu “eu acredito em deus e só” é uma farsa. De que adianta eu “acreditar em deus” como eu dizia, se eu nunca recorri a ele pra nada e tampouco lhe ofereci alguma coisa? Em momentos de dificuldade eu nunca orei ou pedi qualquer coisa, e em momentos de alegria eu nunca agradeci. Costumava dizer que acreditava em “deus” (sim, eu fazia aspas com as mãos), uma figura mística que guia o universo, mas não interfere. Mas tipo, pra que serve um deus que não interfere? No que eu estou acreditando? Em nada. Porque se eu vou acreditar em algo que não faz nada, então eu acredito em nada. E minha crença era muito limitada, porque assim como falei da religião lá no começo, eu só pensava no "acredito em deus" quando me perguntavam.

Então eu descobri que devo me denominar agnóstica. Eu não nego que deus existe, não acho loucura acreditarem nele, mas também não afirmo sua existência. Esteja ele lá ou não, minha vida é a mesma. E eu não gostaria que ninguém culpasse a sociedade que temos hoje ou a "nova moda de ser ateu" (eu já ouvi e só faltei matar um, ser ateu é uma escolha, tanto quanto ser alto, por exemplo) pela minha descoberta, porque honestamente, não fui uma mudança de pensamentos. Foi simplesmente uma percepção de que eu vinha explicando minha crença de maneira errada.

Então, como dito no início, esse não é um atestado de ateísmo, mas é sim um atestado de agnosticismo.

E eu sei que muitas pessoas discordam. E que muitas pessoas muito queridas vão ficar chateadas com o post e com a minha “descoberta”. Mas, honestamente, é o que eu sou, e eu nunca me senti tão aliviada ao atestar que sou algo quanto agora.

5 comentários:

  1. Estou orgulhosa de você, meu xuxu! Parabéns!!

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  2. So, eu sou meio suspeita para falar do assunto já que eu sou uma católica (praticante... detesto esse termo, mas ok) já que tem uma galera que adora dizer que as pessoas religosas são fanáticas e não pensam por si próprias. Já me falaram isso e bom, nada legal né?

    Por mais que eu não concorde com a visão agnóstica, muito menos a atéia, pelo menos você chegou a uma conclusão sobre Deus, etc.

    Agora (e isso é mais a minha opinião. Se você se sentir ofendida, já peço desculpas kk). Eu acho o agnosticismo uma forma de "preguiça e conforto". Tipo, a pessoa fica em cima do muro e não quer ou não consegue se aderir a uma religão ou assumir de uma vez o ateísmo. Ou seja, não é quente e nem frio, fica no meio termo, e isso se tornou muito comum nos últimos anos.

    Não julgo e nem condeno ninguém que adereiu ao agnosticismo antes que joguem pedras em mim kk, mas essa "indecisão", esse "ficar em cima de muro", eu sinceramente não curto, mas respeito sua escolha.

    E não são só os ateus e gays que sofrem preconceito, até as pessoas que dizem que seguem determinada religão são mal vistas e eu falo por experiência própria.

    Já fui contestada e testada por causa disso, por pessoas que eram próximas, e cara, não é moleza.

    So, é isso :)

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    1. Ñ me ofendo, Lieh, pq conheço pessoas q se escondem atrás do agnosticismo pra ñ ter q se decidir. Pessoas q tem medo de se denominarem ateias ou vergonha de se dizerem de uma certa crença.

      Mas o meu caso ñ é esse. Veja bem, eu acho q ser ateu é ñ só vc dizer q ñ acredita em deus, mas é vc atestar q ele ñ existe. E quem sou eu pra atestar algo assim? Ñ posso dizer com toda a certeza q ele ñ existe, eu ñ tenho provas. Mas eu tbm ñ tenho provas de q existe.

      Eu me digo agnóstica pq, pra mim, na minha vida, a existencia de deus é uma variável q ñ faz parte da equação. Seja lá qual o valor de byte, o resultado vai ser o mesmo. Ou seja, deus exista ou ñ, nada muda em mim. Sendo assim, ñ vejo pq afirmar sua existencia ou mesmo negá-la.

      Então se vc me perguntar se eu acredito ou ñ em deus, eu acho q provavelemnte diria ñ. Mas eu gosto de ter certeza. Da maneira q eu tenho certeza q um remédio funciona pq ele foi testado, ou q uma equação vai da certo pq os números batem. Eu ñ sei trabalhar sem motivos, sem provas. E é por isso q ñ digo q acredito nem q ñ acredito.

      Mas no fundo, a diferença, é q realmente ñ faz diferença. Pra mim, ñ faz.

      E, é claro q há preconceito em tudo. Só q é hipócrita falarmos de preconceito contra branco (coisa q existe!), ou contra hétero, q tbm existe, quando estes são os grupos dominantes, ditos "normais". Ser branco é normal, ser negro é q é considerado "errado". O mesmo vale com ser hétero e ser gay. E com ser religioso e ser ateu.

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  3. Posso te dar um abraço por esse post?? :abrac: :hugluv:

    Eu não conhecia essa estatística de que ateus eram mais odiados que gays, mas, como sou as duas coisas, sinto, ao menos mais claramente, a aversão das pessoas pelo ateísmo mais do que pela homo ou bissexualidade.

    Talvez porque as pessoas se sintam mais tranquilas e "amparadas" para falarem da crença (ou não crença) dos outros do que da sexualidade (quase sempre jogada debaixo do tapete), mas, em termos práticos e visíveis, a aversão por ateus e ateias é maior mesmo.

    Espero que você esteja realmente bem por ser agnóstica agora, independente da onde isso vá levar sua consciência. Desde que leve até a verdade, e que você se sinta bem, é somente o que importa.

    Muita força, Naty!!!

    .:Fabinho:.

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  4. O debate que vc abriu aqui é muito válido.

    Primeiro que a religião é (ou deveria ser) uma questão de identidade. Seu texto revela isso, essa busca que vc fez em busca de vc mesma e do que vc acredita. E isso é particular e, como vc mesma disse, não deve ser "controlado" externamente. Os questionamentos que vc fez até chegar á sua resposta definitiva foram válidas para vc, para a sua caminhada. Essas questões que vc fez são diferentes para outras pessoas. Muitas vezes para elas, essas questões estão muito bem respondidas, pois a crença delas trouxe todos os significados que ela precisava. Pq, o que precisamos entender (e isso agradeço à minha formação :bjs: ) é que a religião em sua origem era a explicação que as pessoas achavam para o mundo ao seu redor. E para cada religião havia um grupo de pessoas que se satisfazia com tais respostas, e outro grupo que precisava encontrá-las em outro lugar. E é isso que precisamos entender para que possa-se começar a entender e aceitar as crenças de cada um, mesmo quando não combinam com as suas.
    Todinho, fico muito feliz mesmo de ver que vc achou as suas respostas e que esteja tão seguras delas. E pode ter certeza que sempre terá o meu apoio.
    Parabéns pelo texto, babe :hugluv:

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