quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

O estado laico é um estado ateu?

Dia desses (quero dizer: há eras) tava passeando no twitter quando li alguém dizendo que não podemos confundir estado laico com estado ateu. Não me lembro honestamente quem postou isso, mas lembro que era uma pessoa cristã porque na hora pensei “quando tiver tempo preciso dar uma explicada na situação pra ela”. Expliquei? Não, porque esqueci. Mas cá estou eu pra escrever sobre, porque a frase nunca exatamente me deixou e eu acho um tema importante.

Então, vamos por partes. Sim: não podemos confundir um estado laico com um estado ateu. Não podemos mesmo. Até porque se você acha que quem precisa que o estado seja laico é o ateu... amigo, você não entendeu nada, mesmo.

 
Sou ateia. Sem trancos ou barrancos, nem floreios na declaração: eu não acredito em deus. Me incomoda que na moeda brasileira tenha “deus seja louvado”? Hum, um pouco, sim. Me incomoda que tenha um crucifixo em cabinetes do governo? Novamente, me incomoda um pouco sim.

Mas me atrapalha? De maneira alguma.

Quando a gente pede um estado laico, a gente pede o seguinte: um pastor pode se eleger a deputado? Óbvio. Mas esse mesmo pastor pode pedir projetos de lei que proíbam ou permitam alguma coisa baseado na bíblia ou na sua religião? Não. E a gente pede isso por uma série de fatores. A primeira de todas é que se a gente voltar nos livros de história de qualquer país a gente vai ver que igreja mais estado sempre resulta em merda (oi inquisição, bruxas na fogueira, negros sem alma, etc, etc, etc). A segunda, linkada a primeira, é que quando igreja se mistura com estado eles tendem a querer forçar leis sobre coisas que pra eles são necessárias, mas pra outras pessoas, não. Tema polêmicos como aborto e casamento homossexual são um exemplo, mas até coisas mais simples podem ser propostas baseando-se na bíblia ou na igreja se abrirmos esses precedentes.

Agora, não é nem sobre isso exatamente que eu quero falar. Porque eu falei que o estado laico não é algo que é necessário prioritariamente a ateus, e com o que eu disse acima, até seria (afinal há ateus homossexuais e ateias que querem abortar). Não, o que eu quero falar é sobre quem realmente precisa de um estado laico.

Não evangélicos ou católicos. Pode vir como um baque, um choque de realidade pra você, mas essas não são as únicas duas religiões no Brasil ou no mundo. Tem muita religião espalhada por aí e o Brasil é um país multicultural e livre (ao menos na teoria). Espírita? Vá em frente. Judeu? Bem vindo. Muçulmano? Sinta-se em casa. A gente tem que aceitar todas as religiões – ou a falta delas – da mesma maneira que a gente aceita o culto ou a missa de domingo. A sua crença é sua, ela te fortalece, te alegra, te dá aquilo que você precisa e isso é ótimo. Mas é isso, ela é sua. De mais ninguém. Principalmente de quem não quer a sua religião. Um estado baseado nas leis católicas pode ser ruim pra um ateu? Pode. Mas pode ser fisicamente perigoso e prejudicial a um Umbandista, por exemplo.

Um estado laico não é um estado ateu. Nem deveria ser. Um estado laico não nega a existencia de deus. Mas ele abre os braços pra crença de todo mundo no deus – ou deuses – que lhes bem entender. Quem não crê em deus nenhum não tme seu direito negado, mas quem crê num deus diferente do deus católico tem. E ta certo isso? No quinto maior país do mundo com tanta diversidade cultural e com tanta raiz africana? Não ta.

A gente não quer um estado ateu. Eu não quero um estado ateu. A gente quer um estado inclusivo.


E isso quer dizer um estado laico.

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