Dia desses
(quero dizer: há eras) tava passeando no twitter quando li alguém dizendo que
não podemos confundir estado laico com estado ateu. Não me lembro honestamente
quem postou isso, mas lembro que era uma pessoa cristã porque na hora pensei
“quando tiver tempo preciso dar uma explicada na situação pra ela”. Expliquei?
Não, porque esqueci. Mas cá estou eu pra escrever sobre, porque a frase nunca
exatamente me deixou e eu acho um tema importante.
Então,
vamos por partes. Sim: não podemos confundir um estado laico com um estado
ateu. Não podemos mesmo. Até porque
se você acha que quem precisa que o estado seja laico é o ateu... amigo, você
não entendeu nada, mesmo.
Sou ateia.
Sem trancos ou barrancos, nem floreios na declaração: eu não acredito em deus. Me
incomoda que na moeda brasileira tenha “deus seja louvado”? Hum, um pouco, sim.
Me incomoda que tenha um crucifixo em cabinetes do governo? Novamente, me
incomoda um pouco sim.
Mas me atrapalha? De maneira alguma.
Quando a
gente pede um estado laico, a gente pede o seguinte: um pastor pode se eleger a
deputado? Óbvio. Mas esse mesmo
pastor pode pedir projetos de lei que proíbam ou permitam alguma coisa baseado
na bíblia ou na sua religião? Não. E
a gente pede isso por uma série de fatores. A primeira de todas é que se a
gente voltar nos livros de história de qualquer país a gente vai ver que igreja
mais estado sempre resulta em merda (oi inquisição, bruxas na fogueira, negros
sem alma, etc, etc, etc). A segunda, linkada a primeira, é que quando igreja se
mistura com estado eles tendem a querer forçar leis sobre coisas que pra eles são necessárias, mas pra outras
pessoas, não. Tema polêmicos como aborto e casamento homossexual são um
exemplo, mas até coisas mais simples podem ser propostas baseando-se na bíblia
ou na igreja se abrirmos esses precedentes.
Agora, não
é nem sobre isso exatamente que eu quero falar. Porque eu falei que o estado
laico não é algo que é necessário prioritariamente a ateus, e com o que eu
disse acima, até seria (afinal há ateus homossexuais e ateias que querem
abortar). Não, o que eu quero falar é sobre quem realmente precisa de um estado laico.
Não
evangélicos ou católicos. Pode vir como um baque, um choque de realidade pra
você, mas essas não são as únicas duas religiões no Brasil ou no mundo. Tem
muita religião espalhada por aí e o Brasil é um país multicultural e livre (ao menos na teoria). Espírita? Vá
em frente. Judeu? Bem vindo. Muçulmano? Sinta-se em casa. A gente tem que
aceitar todas as religiões – ou a falta delas – da mesma maneira que a gente
aceita o culto ou a missa de domingo. A sua crença é sua, ela te fortalece, te alegra, te dá aquilo que você precisa e
isso é ótimo. Mas é isso, ela é sua.
De mais ninguém. Principalmente de quem não quer a sua religião. Um estado baseado
nas leis católicas pode ser ruim pra um ateu? Pode. Mas pode ser fisicamente
perigoso e prejudicial a um Umbandista, por exemplo.
Um estado
laico não é um estado ateu. Nem deveria ser. Um estado laico não nega a
existencia de deus. Mas ele abre os braços pra crença de todo mundo no deus –
ou deuses – que lhes bem entender. Quem não crê em deus nenhum não tme seu
direito negado, mas quem crê num deus diferente do deus católico tem. E ta
certo isso? No quinto maior país do mundo com tanta diversidade cultural e com
tanta raiz africana? Não ta.
A gente não
quer um estado ateu. Eu não quero um
estado ateu. A gente quer um estado inclusivo.
E isso quer
dizer um estado laico.
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